sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Ceifador

Atacou-o com dois golpes rápidos, atingindo-o sob o pescoço; caiu levemente ao chão, o sangue escorreu sobre toda a vegetação rasteira, em instantes via-se um lençol vermelho vivo sob todo o chão. 
         Olhou-o nos olhos, seus olhos ainda agonizavam, silenciosamente – em um misto de medo e ódio – feras não lidam bem com derrotas. Tampouco, covarde – derrota covarde. Havia desferido três golpes em seu pescoço. O primeiro para ceifar, o segundo para derrubar, o terceiro para garantir a morte, quando um só bastava, os outros eram arrogância. Guerreiros também são covardes. As presas, muitas vezes, lhe são um fantasma obsoleto.
        O primeiro olhar lhe causou ódio, o posterior trouxe-lhe alívio, o último um tremendo pesar. A besta não o tinha atacado. Ele sim, a emboscou-a, e em atitude Judas ceifou-a, covardemente.
        O pai o tinha dito: “não matarás sem que o fim seja o alimento”. O arrependimento tardio já não o consola. Um demônio pessoal ao chão, que não há de voltar, e, por fim, uma lição.