terça-feira, 9 de janeiro de 2018

A pisadeira



            Eram mais ou menos umas três da manhã. Senti meus pés frios e uma sensação de dormência invadindo o meu corpo. Estava desconfortável, não conseguia mover nem os membros superiores e nem os inferiores. Apenas meus olhos estavam abertos. E, aos poucos, percebia o quarto inteiro esfriando e uma neblina tonando conta do espaço.
            Estava incrivelmente imóvel. Repito: imóvel. A angústia me vinha e, por vezes, o medo. Porque não era nem a primeira e talvez não fosse a última vez que isso aconteceria. Já conhecia bem esse estado catatônico apavorante. E pior, sabia bem o que esta experiência me proporcionava: pavor e sensações indescritíveis.
            O quarto continuava a esfriar. As frestas da janela deixavam adentrar ao recinto uma neblina grossa e densa. O quarto estava suficientemente escuro. E o meu medo continuava a aumentar. Tentava fechar os olhos e não obtinha respostas. Já não tinha controle sobre o meu corpo.
            Ao fundo do quarto ouvia um som se intensificando cada vez mais. O som me era familiar e só de ouvi-lo já me assustava. O que o emitia também já era conhecido por mim.
            Quando o quarto já estava tomado por toda a neblina, ouvi o primeiro movimento rápido e fantasmagórico. Ela escalou rapidamente a parede esquerda do quarto. Em seguida, saltou para o teto e de lá me mirou com seus olhos amarelados. No rosto trazia um sorriso debochado.
            Ainda imóvel na cama, tentei mexer os dedos e nada. Meu corpo ainda não respondia aos meus comandos. Tentei desviar o olhar e não a encarar. Sem sucesso, também não tinha este controle sobre minha face.
            Em um só salto − ela, a pisadeira − montou sobre o meu corpo indefeso. A princípio, movimentava-se estranhamente sobre mim, como se cavalgasse. Em seguida, posicionou as mãos em volta do meu pescoço e iniciou mais de uns seus rituais macabros de sufocamento. Sentia, aos poucos, o ar me faltar. E, sem vitória, tentava me mover e não conseguia, como sempre.
            Ela continuou seu ritual nefasto sobre minha pessoa. Ia me machucando e ceifando a minha vida gradativamente. E continuou com seu sorriso debochado, como se o rito a satisfizesse e a desse prazer. E aparentemente dava.
            Senti-me morrendo. Já não sentia a mim e nem nada. Só via um branco opaco e profundo em minha volta. Nada escutava também e tampouco me sentia respirar.
            Ao fundo, ouvi mais um grito, dessa vez era masculino e encorpado. Chamava meu nome. Chamou uma, duas, três...e repetidas vezes.  Logo após, senti meu corpo chocalhar com força, algo me firmava pelos ombros e sacudia forte. Não sabia o que se passava. Aos poucos, fui sentindo meus sentidos sendo recuperados. E já conseguia sentir a minha respiração também. Abri levemente os olhos e consegui ver, mesmo que turvo, a imagem de meu esposo Walter. Ele me chamava pelo nome, mas ouvia como se fosse a quilômetros de distância. Por fim, recuperei a audição e consegui ouvi-lo dignamente.
            − Alice, acorde! – insistia ele, com o semblante assustado. − Vamos, acorde!
            Percebia-me acordada, mas ainda estava estranhamente fora daquela realidade.  Sentei-me sobre a cama e tentei me acalmar, enquanto Walter me oferecia um copo com água e afagava meus cabelos, com olhos preocupados. Não era nem a primeira e provavelmente não seria a última que aquele evento me aconteceria. Era esta mais uma noite mal dormida e seria também mais um dia repleto de preocupações e medos.



          


          

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