Eram mais ou menos umas três da manhã. Senti meus
pés frios e uma sensação de dormência invadindo o meu corpo. Estava
desconfortável, não conseguia mover nem os membros superiores e nem os
inferiores. Apenas meus olhos estavam abertos. E, aos poucos, percebia o quarto
inteiro esfriando e uma neblina tonando conta do espaço.
Estava
incrivelmente imóvel. Repito: imóvel. A angústia me vinha e, por vezes, o medo.
Porque não era nem a primeira e talvez não fosse a última vez que isso
aconteceria. Já conhecia bem esse estado catatônico apavorante. E pior, sabia
bem o que esta experiência me proporcionava: pavor e sensações indescritíveis.
O
quarto continuava a esfriar. As frestas da janela deixavam adentrar ao recinto
uma neblina grossa e densa. O quarto estava suficientemente escuro. E o meu
medo continuava a aumentar. Tentava fechar os olhos e não obtinha respostas. Já
não tinha controle sobre o meu corpo.
Ao
fundo do quarto ouvia um som se intensificando cada vez mais. O som me era
familiar e só de ouvi-lo já me assustava. O que o emitia também já era
conhecido por mim.
Quando
o quarto já estava tomado por toda a neblina, ouvi o primeiro movimento rápido
e fantasmagórico. Ela escalou rapidamente a parede esquerda do quarto. Em
seguida, saltou para o teto e de lá me mirou com seus olhos amarelados. No
rosto trazia um sorriso debochado.
Ainda
imóvel na cama, tentei mexer os dedos e nada. Meu corpo ainda não respondia aos
meus comandos. Tentei desviar o olhar e não a encarar. Sem sucesso, também não
tinha este controle sobre minha face.
Em
um só salto − ela, a pisadeira − montou sobre o meu corpo indefeso. A
princípio, movimentava-se estranhamente sobre mim, como se cavalgasse. Em
seguida, posicionou as mãos em volta do meu pescoço e iniciou mais de uns seus
rituais macabros de sufocamento. Sentia, aos poucos, o ar me faltar. E, sem
vitória, tentava me mover e não conseguia, como sempre.
Ela
continuou seu ritual nefasto sobre minha pessoa. Ia me machucando e ceifando a
minha vida gradativamente. E continuou com seu sorriso debochado, como se o
rito a satisfizesse e a desse prazer. E aparentemente dava.
Senti-me
morrendo. Já não sentia a mim e nem nada. Só via um branco opaco e profundo em
minha volta. Nada escutava também e tampouco me sentia respirar.
Ao
fundo, ouvi mais um grito, dessa vez era masculino e encorpado. Chamava meu
nome. Chamou uma, duas, três...e repetidas vezes. Logo após, senti meu corpo chocalhar com
força, algo me firmava pelos ombros e sacudia forte. Não sabia o que se
passava. Aos poucos, fui sentindo meus sentidos sendo recuperados. E já
conseguia sentir a minha respiração também. Abri levemente os olhos e consegui
ver, mesmo que turvo, a imagem de meu esposo Walter. Ele me chamava pelo nome,
mas ouvia como se fosse a quilômetros de distância. Por fim, recuperei a
audição e consegui ouvi-lo dignamente.
−
Alice, acorde! – insistia ele, com o semblante assustado. − Vamos, acorde!
Percebia-me
acordada, mas ainda estava estranhamente fora daquela realidade. Sentei-me sobre a cama e tentei me acalmar,
enquanto Walter me oferecia um copo com água e afagava meus cabelos, com olhos
preocupados. Não era nem a primeira e provavelmente não seria a última que
aquele evento me aconteceria. Era esta mais uma noite mal dormida e seria também
mais um dia repleto de preocupações e medos.
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