Duque: ─ O que te incomoda?
Duquesa: ─ Perdão?
Duque: ─ Percebi que
depois do jantar saiu cabisbaixa e sem muito que se importar.
Duquesa: ─ Não há o que me
importar!
Duque: ─ Como?
Duquesa: ─ Já não suporto
tais reuniões sociais, me cansa, me consome.
Duque: ─ E por quê?
Duquesa: ─ Não vê como me
olham? Como me investigam? Como me invadem?
Duque: ─ Não, não notei.
Duquesa: ─ Não notou
porque é só mais um deles, mais um do covil, faz parte da trupe.
Duque: ─ Não estou entendendo, o que tenho? O que
eles têm?
Duquesa: ─ Eles não têm! É
isso que é o trágico.
Duque: ─ O que neles te
incomoda?
Duquesa: ─ O jeito que me
olham, parece que me comem viva, devoram meus sentimentos, me vampirizam a
mente, roubam meu ar, aprisionam minha razão, estrangulam minha coragem,
falecem meu tato, trancam a minha voz, vedam meus olhos, estupram meu
cérebro...
Duque: Pare!
Duquesa: ─ Não suporto o
cinismo desenfreado alojado em seus corpos, suas tripas banhadas a vinho de
traição, seus sorrisos debochados de reluzente ouro amargo, suas falas desdenhosas
com odor de comida de urubu...
Duque: ─ Já disse! Pare!
Duquesa: ─ Atormenta-me
suas propostas pútridas tal como solo de pântano amaldiçoado, seus forçados
convites à covas onde não há defunto,
suas modalidades de martírio arraigado, suas juras de amor aleivosas
....
Duque: ─ Cale-se!
Duquesa: ─ Seus planos em
paralelos transigentes desajustes que nunca há de chegar, suas tolices
trepidantes como a presa que enxerga seu fim, seus pensamentos furtivos que
aleijam a quem desejar...
Duque: ─ Amanhã, na
primeira hora do dia, serás enforcada!
Duquesa: ─ Como me
incomoda seus juízos clandestinos em terras de sal, suas ações que faz pubar a
mais fértil das plantações, seus prestígios acaçapados na pior das canastras em
ilha erma...