terça-feira, 12 de outubro de 2010

À ela chamam de consciência


Vinha a mim os devaneios: e eles; eu sabia de onde vinha. Sabia por que dominavam parte do que era; tinham a permissão. Eu a havia concedido. Faziam de mim  ─ não, faziam a mim  ─ o que queriam. Ora, eles tinham esse direito. Aquela vontade não era mais minha, porque me roubaram. Ela próprio se ordenava. Tinha dado lugar a ela ao lado de minha cama, mas já não sabia se lá ela permanecia. Nem a compreendia, apenas podia tê-la. E essa vontade de tê-la era algo voraz, sempre tinha mais poder.  Apenas cedia, cedia como cedia aos dias de inverno que viam e se seguiam.  Aquela vontade fez aqui um jardim; era lá que ela regava as flores de minha consciência. Achava-as belas, mas elas não tinham cor.
─ Oh, não tinham ─ nada tinha tido cor. Quando olhava adiante, via apenas o escuro; sentia que tinha chegado ao fundo. Ali, via essa cor porque era a única que meus olhos podiam refletir. Era esse tom que me agradava; lembrava parte de mim, parte essa que nem tinha consciência. Essa parte me pertencia, embora pouco a conhecesse. Não a via, apenas tinha a certeza de que ela estava sobre mim. Era estranha, mas esse estranho me despertava prazer, semelhante ao convite para a dança. Notava que era através dela que se sentia novamente conectado. É, sentia que havia encontrado novamente a minha conexão, a sintonia me veio. Mas não me lembrava de ter apertado o botão. Sentia que estava a resgatar todos os meus cabos que me foram desconectados.

Um comentário:

  1. Oi!

    É, a consciência faz milagres! Imagina se não tivéssemos consciência, virtudes e desejos? Estariamos perambulando nus no Jardim do Éden agora. rs

    Abraço!

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