Vinha a mim os devaneios: e eles; eu
sabia de onde vinha. Sabia por que dominavam parte do que era; tinham a
permissão. Eu a havia concedido. Faziam de mim ─ não, faziam a mim
─ o que queriam. Ora, eles tinham esse direito. Aquela vontade não era mais minha,
porque me roubaram. Ela próprio se ordenava. Tinha dado lugar a ela ao
lado de minha cama, mas já não sabia se lá ela permanecia. Nem a compreendia,
apenas podia tê-la. E essa vontade de tê-la era algo voraz, sempre tinha mais
poder. Apenas cedia, cedia como cedia aos dias de inverno que viam e se
seguiam. Aquela vontade fez aqui um jardim; era lá que ela regava as
flores de minha consciência. Achava-as belas, mas elas não tinham cor.
─ Oh, não tinham ─ nada tinha tido cor.
Quando olhava adiante, via apenas o escuro; sentia que tinha chegado ao fundo.
Ali, via essa cor porque era a única que meus olhos podiam refletir. Era esse
tom que me agradava; lembrava parte de mim, parte essa que nem tinha consciência.
Essa parte me pertencia, embora pouco a conhecesse. Não a via, apenas tinha a
certeza de que ela estava sobre mim. Era estranha, mas esse estranho me
despertava prazer, semelhante ao convite para a dança. Notava que era através
dela que se sentia novamente conectado. É, sentia que havia encontrado novamente
a minha conexão, a sintonia me veio. Mas não me lembrava de ter apertado o
botão. Sentia que estava a resgatar todos os meus cabos que me foram
desconectados.
Oi!
ResponderExcluirÉ, a consciência faz milagres! Imagina se não tivéssemos consciência, virtudes e desejos? Estariamos perambulando nus no Jardim do Éden agora. rs
Abraço!