domingo, 16 de janeiro de 2011

Sentindo o ínfimo

Acordou. O ato de acordar era tudo o que tinha naquele momento, apenas deixou que o simples exercício de abrir os olhos a consumisse. Não queria estar acordada, nem queria fazer parte daquele mundo disforme, não mais. Aos poucos começou a perceber que os raios do sol entrevam e vagavam sem rumo pelo interior de seu quarto. O que era o sol? Pegou-se pensando a respeito por míseros minutos.  Naquele momento nem se dava conta de quem era, imagine só se saberia o que ele era?  Mera perda de tempo!
Aos poucos mexia-se, sentido seu corpo levemente despertando, despertando de algo que nem sabia o que era. Não se lembrava de ter dormido; e agora estava acordando e dando início ao que parecia ser um novo dia. Dias? Eles passaram e ela nem ao menos os sentiu, não sabia que gosto tinha. Apenas os viveu como os vive uma pedra qualquer. Tudo naquele momento não fazia sentido, como não tinha feito nos últimos anos.
Olhou no relógio de parede e já passava das dez. E o que importava? O tempo nunca guiou sua alma, apenas aprisionou sua sensatez. Começou a sentir os dedos do pé formigarem; dizem que quando isso ocorre é por manter-se tempo demais em uma mesma posição. Isso lhe fez pensar que não se dera conta de quanto tempo permaneceu ali naquela posição. Não tinha lembrança nem de quando ali se deitou; então quem dirá o tempo que permaneceu?
Ao despertar, sentia falta de estar dormindo, e quando estava dormindo necessitava acordar. Essa sensação tão vaga muitas vezes lhe vinha em sonhos; não a compreendia, apenas tinha a certeza de que a sentia e como sentia, não sabia. Não era algo que algum dia importou-se.

Mexeu os pés e, instantaneamente, percebeu que eles ainda respondiam aos seus comandos. Teve vontade de levá-los ao chão; vontade essa que logo se consumou. Sentiu o chão frio tocar-lhe e essa sensação por mais vazia que pareça foi boa. Parece que o frio lancinante que veio de baixo tocou fundo o gélido de sua alma e os dois conduziram uma dançae m seu interior. Agora me sentia-se completa.
Postou-se de pé e descalça permaneceu. Precisava suportar esse frio que me lhe fazia tão bem, queria senti-lo de perto. Não queria deixá-lo ir embora. Não podia! Nunca tinha sentindo sentimento algum por nada e agora se sentia atraída por ele. Teve vontade de deitar-se sobre o chão. E fez. Debruçada sobre ele, abraçou-o firme. Usou toda sua força, não queria desgrudar dali nunca mais. Aquele universo particular era seu e só seu. Não deixaria que ninguém e nem algo lhe tirasse. Ali permaneceu por segundos... por minutos... ou, talvez, por horas. Entrou-lhe, conheceu seu lado frio; e desse, ela gostava. Era esse seu lado que sempre procurava e estava satisfeita em tê-lo encontrado. Agora sentia os icebergs que haviam se formado em sua alma há tempos.Sentia-os como agulhas gélidas lhe martirizando; gostava dessa sensação, gostava do tormento causado. Sentia que sua face esfriava, congelando-se em contado com o chão. E isso a ligava ao solo, parecia que estava conectada a terra. Podia ouvir os barulhos, ou seria batimentos? Era um ventre? Acreditava ter atingido o ventre da terra. O que tem lá? Já ouvi dizer que é de lá que brota a vida. Vida? Sobre isso não podia mais falar, porque não mais a compreendia.
        

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