quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A senhora dos animais

Ao fim da tarde, voltando para sua tribo, Ibiri atravessou a mata, para chegar a oca onde morava. Ibiri era menino índio, da pele vermelha, filho dos Tapajós, do Amazonas. No meio do caminho, Ibiri encontrou vários animais desacordados, deitados sobre o chão lamacento. O garoto aproximou-se e viu que os animais estavam mortos; sentiu muita pena dos pobres animais e chorou. Ouviu ao longe um barulho estranho, e com medo se escondeu.
  Ah, aí estão vocês! – disse um velho, de cabelos brancos e gorducho, e que tinha na mão uma espingarda e um chapéu redondo no topo da cabeça. – Terei um jantar farto essa noite e nos próximos dia também. – finalizou o velho.
Enquanto o caçador ia pegando os pobres animais, um a um, e pondo dentro de um grande saco de pano. Ao longe se ouviu um barulho estranho, mais uma vez, mas agora era o vento que vinha assoviando.
O caçador tremeu e largou o saco de pano no chão. O menino índio, ainda escondido, tapou os olhos com as mãos e ficou espiando entre os dedos.
  Quem fere meus filhos? Quem fere? – Raivosa, perguntou Hamãy, a deusa guarani dos animas; que acabara de chegar, trazida pelos ventos.
  Não, senhora, ninguém os fere!. Respondeu o caçador, tremendo e olhando para baixo, com medo de encarar a senhora dos animais.
  O que carrega nesse saco? O que carrega? – Perguntou ela.
  São frutas, minha senhora, são frutas... para comer na janta. – Respondeu o caçador.
  Deixe Hamãy ver, deixe. – Exigiu a deusa. O caçador choramingou baixo.
  Ande, seu caçador! Mostre-me o que tem dentro do saco de pano! Exigiu a entidade.
O caçador abaixou, ainda tremendo, e abriu o saco de pano. Tirou um a um os animaizinhos mortos e depositou sobre o chão.
Hamãy,  a  senhora  dos  animais,  ficou  furiosa,   suspirou   alto   e   deu  uma cambalhota no ar. Chegou perto do caçador e soprou nele uma fumaça cinzenta.

  Malvado caçador, você não merece viver como gente, é cruel e sem coração. Não podia ter ferido tantos animais assim. É extremamente necessário que eu faça o que farei!
Imediatamente, com o sopro da deusa, o caçador foi transformado em árvore, de caule torcido e folhas duras. Virou parente das plantas amazônicas, e agora passara a viver no reino vegetal.
O garoto, do outro lado da mata, choramingou baixo. Hamãy, a senhora dos animais, tem ouvidos bons, é, ela tem. Foi até o local.
   Quem é que se esconde no fundo da mata? Quem é que se esconde? – Perguntou a deusa dos animais.
   É Ibiri, filho dos Tapajós, o povo indígena dos baixos rios Madeira. – Respondeu o menino índio.
  E por que chora, menino vermelho?
  Os animais, o caçador matou os animais de nossas matas.
   Não se preocupe, menino vermelho, Hamãy conhece da arte mágica e é curandeira de animais.
Hamãy voou alto, mais uma vez, deu uma nova cambalhota no ar, e soprou sobre os animais. E, instantaneamente, os animais que estavam mortos voltaram a viver novamente.
  Obrigado, senhora dos animais, por ter salvado meus irmãos.
  Não agradeça, menino vermelho. – Hamãy mexeu dentro de seus gigantes cabelos e tirou algo lá de dentro e disse: − Pegue, essa é uma pedra encantada. Quando vê alguém maltratando os animais, esfregue a pedra, que virei na mesma hora.
Terminou dizendo:
  Agora é extremamente necessário que eu vá-me embora. Preciso salvar e curar outros animais, em outros locais. – Despediu-se a deusa guarani dos animais.
Dito isso, o menino ouviu ao longe o assovio do vento novamente, o vento veio e com ele Hamãy desapareceu.

Ibiri, o menino índio, da pele vermelha, voltou a sua tribo, com os seus irmãos animais, ao lado. Atravessou a mata feliz, assoviando e sorridente. Levava a pedra encantada em uma das mãos, apertando-a com força, porque não queria jamais

perdê-la. Agora ele e a deusa dos animais tinham um elo. Ele era o guardião dos animais das matas e devia avisá-la sempre de qualquer maltrato a eles.

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