Ao fim da tarde, voltando para sua tribo, Ibiri atravessou a
mata, para chegar a oca onde morava.
Ibiri era menino índio, da pele vermelha, filho dos Tapajós, do Amazonas. No
meio do caminho, Ibiri encontrou vários animais desacordados, deitados sobre o
chão lamacento. O garoto aproximou-se e viu que os animais estavam mortos;
sentiu muita pena dos pobres animais e chorou. Ouviu ao longe um barulho
estranho, e com medo se escondeu.
− Ah,
aí estão vocês! – disse um velho, de cabelos brancos e gorducho, e que tinha na
mão uma espingarda e um chapéu redondo no topo da cabeça. – Terei um jantar
farto essa noite e nos próximos dia também. – finalizou o velho.
Enquanto o caçador ia pegando os pobres animais, um a um, e
pondo dentro de um grande saco de pano. Ao longe se ouviu um barulho estranho,
mais uma vez, mas agora era o vento que vinha assoviando.
O caçador tremeu e largou o saco de pano no chão. O menino
índio, ainda escondido, tapou os olhos com as mãos e ficou espiando entre os
dedos.
− Quem
fere meus filhos? Quem fere? – Raivosa, perguntou Hamãy, a deusa guarani dos
animas; que acabara de chegar, trazida pelos
ventos.
− Não, senhora,
ninguém os fere!.
– Respondeu o caçador, tremendo
e olhando para baixo, com
medo de encarar a senhora dos animais.
− O que carrega nesse
saco? O que carrega? – Perguntou ela.
− São
frutas, minha senhora, são frutas... para comer na janta. – Respondeu o caçador.
− Deixe
Hamãy ver, deixe. – Exigiu a deusa. O caçador choramingou baixo.
− Ande, seu caçador! Mostre-me
o que tem dentro do saco de pano! – Exigiu a entidade.
O caçador abaixou,
ainda tremendo, e abriu o saco de pano. Tirou
um a um os animaizinhos
mortos e depositou sobre o chão.
Hamãy, a senhora
dos animais, ficou
furiosa, suspirou alto
e deu uma cambalhota no ar. Chegou
perto do caçador
e soprou nele uma fumaça
cinzenta.
− Malvado caçador,
você não merece
viver como gente,
é cruel e sem coração. Não podia ter ferido tantos
animais assim. É extremamente necessário que eu faça o que farei!
Imediatamente, com o sopro da deusa, o caçador foi
transformado em árvore, de caule torcido e folhas duras. Virou parente das
plantas amazônicas, e agora passara a viver no reino vegetal.
O garoto, do outro lado da mata, choramingou baixo. Hamãy,
a senhora dos animais, tem ouvidos bons, é, ela tem. Foi até o local.
− Quem
é que se esconde no fundo da mata? Quem é que se esconde? – Perguntou a deusa
dos animais.
− É
Ibiri, filho dos Tapajós, o povo indígena dos baixos rios Madeira. – Respondeu
o menino índio.
− E por que chora,
menino vermelho?
− Os animais, o
caçador matou os animais de nossas matas.
− Não
se preocupe, menino vermelho, Hamãy conhece da arte mágica e é curandeira de animais.
Hamãy voou alto, mais uma vez, deu uma nova cambalhota no
ar, e soprou sobre os animais. E, instantaneamente, os animais que estavam
mortos voltaram a viver novamente.
−
Obrigado, senhora dos animais, por ter salvado meus irmãos.
− Não
agradeça, menino vermelho. – Hamãy mexeu dentro de seus gigantes cabelos e
tirou algo lá de dentro e disse: − Pegue, essa é uma pedra encantada. Quando vê
alguém maltratando os animais, esfregue a pedra, que virei na mesma hora.
Terminou dizendo:
− Agora
é extremamente necessário que eu vá-me embora. Preciso salvar e curar outros
animais, em outros locais. – Despediu-se a deusa guarani dos animais.
Dito isso, o menino ouviu ao longe o assovio
do vento novamente, o vento veio e com ele Hamãy desapareceu.
Ibiri, o menino índio, da pele vermelha, voltou a sua
tribo, com os seus irmãos animais, ao lado. Atravessou a mata feliz, assoviando
e sorridente. Levava a pedra encantada em uma das mãos, apertando-a com força,
porque não queria jamais
perdê-la. Agora ele e a deusa
dos animais tinham um elo. Ele era o guardião dos animais das matas e devia
avisá-la sempre de qualquer maltrato a eles.
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